A
namoradinha (Rosemary Noronha) acaba de
comprar um apartamentinho em Paris.
A mocinha teria pago 8.050 milhões euros declarados – não diretamente no
nome dela, mas de um “laranja” de confiança, talvez.
O plano da moça é ter um lugar calmo e romântico na Cidade Luz para viver
seu grande amor secreto, sempre que ele puder dar uma viajadinha em politicagem
turística transnacional.
A namoradinha, que passa por uma fase judicialmente conturbada, espera que
operação abafa a seu favor seja completamente bem sucedida.
Fazem 189 dias que
os brasileiros decentes foram afrontados pela descoberta do escândalo em
que Lula se meteu ao lado de Rosemary Noronha. Faz 100 dias que o país que
presta é afrontado pela mudez malandra do caçador de votos que promoveu uma
gatuna de quinta categoria a chefe do escritório da Presidência da República em
São Paulo. Faz 100 dias que o ex-presidente foge de perguntas sobre o caso de
polícia que protagonizou em companhia da Primeiríssima Amiga e dos bebês
quadrilheiros de Rosemary.
Surpreendido
pela divulgação das maracutaias comprovadas por policiais federais engajados na
Operação Porto Seguro, Lula fez o que sempre faz quando precisa costurar algum
álibi menos cretino: perdeu a voz e sumiu. Passou a primeira semana enfurnado
no Instituto Lula. Passou as duas seguintes longe do Brasil, driblando
repórteres com escapadas pela porta dos fundos ou pela cozinha do restaurante.
Recuperou
a voz no começo do ano, mas ainda garimpa no porão das desculpas esfarrapadas
alguma que o anime a enfrentar jornalistas armados apenas de perguntas sem
resposta. Para impedir que a aproximação do perigo, tem recorrido a cordões de
isolamento, cercadinhos, muralhas humanas e outras mesquinharias improvisadas
para livrá-lo de gente interessada no enredo da pornochanchada financiada por
cofres públicos que apresentou ao Brasil, entre outros espantos, os talentos
ocultos de Rosemary Noronha.
O
silêncio que vai completando 2.500 horas, insista-se, só vale para o caso Rose.
Entre 23 de novembro de 2012 e 3 de março de 2013, excluídos os poucos dias em
que teve de desativar o serviço de som, o palanque ambulante continuou
desempenhando simultaneamente os papeis de co-presidente da República,
presidente honorário da base alugada, chefe supremo da seita, protetor dos
pecadores companheiros, arquiteto do Brasil Maravilha e consultor-geral do
mundo.
Abençoou
catadores de lixo e metalúrgicos, fingiu entender o que Sofia Loren disse
em italiano, avisou que os EUA nunca mais elegerão um negro se Barack Obama
fizer besteira, louvou bandidos de estimação, insultou a oposição, deliberou
sobre a tragédia ocorrida no jogo do Corithians em Oruro, explicou aos
governantes europeus como se transforma tsunami em marolinha, recomendou a FHC
que pare de dizer o que pensa e descobriu que Abraham Lincoln reencarnou no
Brasil com o nome de Luiz Inácio Lula da Silva. Fora o resto.
Só
não falou sobre o que importa, agarrado à esperança de sobreviver sem fraturas
expostas ao primeiro escândalo que não pode terceirizar. Não houve
intermediários entre Lula e Rose. Não há bodes expiatórios que a apresentar. É
natural que fuja como o diabo da cruz de pelo menos 40 perguntas formuladas
pelo timaço de comentaristas:
1.
Por que se recusa a prestar esclarecimentos sobre um escândalo investigado pela
Polícia Federal que o envolve diretamente?
2.
Considera inconsistentes as provas reunidas pela Operação Porto Seguro?
3.
Por que disse em Berlim que não se surpreendeu com a Operação Porto Seguro?
4.
Desta vez sabia de tudo ou, de novo, nunca soube de nada?
5.
Onde e quando conheceu Rosemary Noronha?
6.
Como qualifica a relação que mantém com Rose há 17 anos?
7.
Em quais critérios se baseou para instalar uma mulher sem experiência
administrativa na chefia do gabinete presidencial em São Paulo?
8.
Por que pediu a Dilma Rousseff que mantivesse Rose no cargo?
9.
Por que criou os escritórios da Presidência da República?
10.
Continua achando necessária a existência de escritórios e chefes de gabinete?
11.
Além de demitir Rose, Dilma Rousseff extinguiu o cargo que ocupava. A presidente
errou?
12.
Por que Rose foi incluída na comitiva presidencial em pelo menos 20
viagens internacionais?
13.
Por que foi contemplada com um passaporte diplomático?
14.
Quem autorizou a concessão do passaporte?
15.
Por que o nome de Rosemary Noronha nunca apareceu nas listas oficiais de
passageiros do avião presidencial divulgadas pelo Diário Oficial da União?
16.
Quem se responsabilizou pelo embarque de uma passageira clandestina?
17.
Por que Marisa Letícia e Rose não eram incluídas numa mesma comitiva?
18.
Quais eram as tarefas confiadas a Rose durante as viagens?
19.
Todo avião utilizado por autoridades em missão oficial é considerado Unidade
Militar. Os militares que tripulavam a aeronave sabiam que havia uma
clandestina a bordo?
20.
Como foram pagas e justificadas as despesas de uma passageira que oficialmente
não existia?
21.
Por que nomeou os irmãos Paulo e Rubens Vieira, a pedido de Rose, para cargos
de direção em agências reguladoras?
22.
Examinou o currículo dos nomeados?
23.
Por que o aliado José Sarney, presidente do Senado, convocou irregularmente uma
terceira sessão que aprovou a nomeação de Paulo Vieira, rejeitada em votação
anterior?
24.
Acha que são culpados?
25.
Por que comunicou à imprensa, por meio de um diretor do Instituto Lula, que não
comentaria o episódio por considerá-lo “assunto pessoal”?
26.
Por que Rose se apresentava como “namorada do presidente”?
27.
Se teve o nome usado indevidamente, por que não processou Rosemary Noronha?
28.
Conversou com Rose nos últimos 100 dias?
29.
Por que Rose tinha direito ao uso de cartão corporativo?
30.
Por que foram mantidos em sigilo os pagamentos feitos por Rose com o cartão
corporativo ?
31.
Autorizou a inclusão, na decoração do escritório da Presidência em São Paulo,
da foto em tamanho família em que aparece simulando a cobrança de um pênalti?
32.
O blog do deputado federal Anthony Garotinho afirmou que Rose embarcou para
Portugal com 25 milhões de euros. Se a denúncia é improcedente, por que não
processa quem a divulgou?
33.
Por que alegou que não comentaria o episódio por considerá-lo “assunto
pessoal”, conforme comunicou à imprensa um dos diretores do Instituto Lula?
34.
Era previamente informado por Rose das reuniões que promoveria no escritório da
presidência?
35.
Depois das reuniões, era informado por Rose do que fora discutido e decidido?
36.
Por que, mais uma vez, alegou ter sido “traído”? Quem o traiu?
37.
Se pudesse recuar no tempo, faria tudo de novo?
38.
Não se arrepende de nada?
39.
Não se envergonha de nada?
40.
Que história contou em casa?
Há dias, Lula
acusou a imprensa de negar-lhe o espaço que merece. Está convidado a preencher
o espaço que quiser com respostas a essas perguntas. Todas serão publicadas na
íntegra.
Coragem, Lula.