Recebi por email em 05/02/2015
Em VEJA desta semana
Lula e José
Dirceu se desentendem por causa do petrolão
Os dois
líderes históricos do PT não conversaram desde que o escândalo ganhou corpo.
"Vocês me abandonaram há tempos", diz Dirceu
Daniel Pereira
DIGITAIS – Dirceu, apontado como padrinho
do diretor da Petrobras envolvido no esquema, queria combinar com Lula uma
estratégia de defesa (Joel Rodrigues/Frame/VEJA)
Faz tempo que o escândalo de corrupção na
Petrobras serve de combustível para o fogo amigo dentro do PT. No ano passado,
petistas que comandavam o movimento “Volta, Lula” criticaram a presidente Dilma
Rousseff por admitir que aprovara a compra da refinaria de Pasadena com base
num relatório falho. Com o gesto de sinceridade, Dilma teria levado a crise
para dentro do Palácio do Planalto, segundo seus adversários internos, e
demonstrado uma ingenuidade e um amadorismo capazes de pôr em risco a
permanência do partido no poder. No afã de tirá-la da corrida eleitoral,
aliados de Lula também acusaram a presidente de traição ao responsabilizar a
antiga diretoria da Petrobras, nomeada pelo antecessor, pelos desfalques
bilionários nos cofres da companhia. Como o “Volta, Lula” não decolava e a
sucessão presidencial se anunciava acirrada, os petistas selaram um armistício
até a eleição. Mas, com Dilma reeleita, retomaram a disputa fratricida. O
motivo é simples: estrelas do PT serão punidas novamente — agora no petrolão.
Resta saber quem pagará a conta. Com as prisões do mensalão ainda frescas na
memória, ninguém está disposto a ir para o sacrifício.
A tensão decorrente das investigações e do
julgamento do esquema de corrupção na Petrobras colocou em trincheiras opostas
as duas mais importantes lideranças históricas do PT: Lula e seu ex-ministro
José Dirceu. Tão logo os delatores do petrolão disseram que o exdiretor de
Serviços da Petrobras Renato Duque recolhia propina para o partido, Dirceu, o
padrinho político de Duque, ligou para o Instituto Lula e pediu uma conversa
com o ex-presidente. O objetivo era se dizer à disposição para ajudar os
companheiros a rebater as acusações e azeitar a estratégia de defesa. Conhecido
por deixar soldados feridos pelo caminho, Lula não ligou de volta. Em vez
disso, mandou Paulo Okamotto, seu fiel escudeiro, telefonar para Dirceu. Assim
foi feito. “Do que você está precisando, Zé?”, questionou Okamotto. Dirceu
interpretou a pergunta como uma tentativa do interlocutor de mercadejar o seu
silêncio. À mágoa com Lula, que o teria abandonado durante o ano em que passou
na cadeia, Dirceu acrescentou pitadas de ira: “Você acha que vou ligar para
pedir alguma coisa? Vocês me abandonaram há tempos”, respondeu. E fim de papo.
Diretor do Instituto Lula, Okamotto é
frequentemente convocado pelo ex-presidente para cumprir missões espinhosas. Ele
atuou, por exemplo, para impedir que as investigações sobre o mensalão
chegassem ao chefe. Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), o
empresário Marcos Valério disse ter sido ameaçado de morte por Okamotto. O
recado foi claro: ou Valério se mantinha em silêncio ou pagaria caro por
enredar Lula na trama. O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Valério, o
operador do mensalão, a 37 anos e cinco meses de prisão. Logo depois de as
primeiras penas serem anunciadas, Valério declarou ao MPF que Lula se
beneficiara pessoalmente do esquema. No mesmo processo, Dirceu foi condenado
por corrupção a sete anos e onze meses de prisão. O petista já deixou a cadeia
e, por decisão da Justiça, cumpre o resto da pena em regime domiciliar. Ao
telefonar a Lula, ele quis deixar claro a necessidade de o governo e o PT
organizarem uma sólida estratégia de defesa no petrolão. A preocupação tem
razão de ser.
Delatores do petrolão disseram às
autoridades que Renato Duque recolhia 3% dos contratos da diretoria de Serviços
da Petrobras para o PT. No âmbito de um acordo de delação premiada, Pedro
Barusco, que era o adjunto de Duque, disse que o ex-diretor recolheu propina em
pelo menos sessenta contratos. Barusco também implicou o tesoureiro nacional do
PT, João Vaccari Neto, na coleta de dinheiro roubado dos cofres da Petrobras.
Outros delatores, como empreiteiros, afirmaram que a dinheirama surrupiada
financiou campanhas petistas. Há provas fartas contra o partido. É certo que
haverá punições. E é justamente isso que faz a briga interna arder em fogo
alto. Dilma mantém o discurso de que nada tem a ver com a roubalheira.
Executivos nomeados por Lula e demitidos por sua sucessora, como o ex-presidente
da Petrobras Sergio Gabrielli e o ex-diretor Nestor Cerveró, não aceitam ser
responsabilizados. O mesmo vale para Dirceu, que não quer correr o risco de
voltar à Papuda.
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