Por Bruno Doro, Daniel Brito e
Fábio Aleixo, do UOL, em Toronto (CAN) 15 Jul 2015
No judô, a maioria
dos atletas do Brasil que subiu ao pódio repetiu um gesto. Quando a bandeira
verde e amarela era hasteada, batiam continência. Estando o atleta em primeiro,
segundo ou terceiro lugar. Com o hino brasileiro tocando ou não. O mesmo
aconteceu nas provas de natação neste Pan-Americano de Toronto.
O motivo? Todos são
militares e receberam treinamento para isso. Segundo a judoca Mayra Aguiar,
atual campeã mundial e que saiu dos Jogos Pan-Americanos de Toronto com uma
medalha de prata, foi feito um pedido dos militares à delegação brasileira para
isso.
"Na verdade,
eles pediram pra fazer. Mas é uma coisa da gente. A gente ficou na iniciação um
mês, lá dentro. Aprendeu muita coisa e pegou o espírito do militarismo",
diz Mayra, terceiro sargento da Marinha.
Outros atletas
negaram que seja uma exigência. "Represento o Exército brasileiro. Somos
ensinados que, sempre que o hino toca, o militar, por respeito, tem de bater
continência e ficar em posição de sentido. É uma forma de respeito pela minha
bandeira e meu país", completa Léo de Deus, campeão dos 200m borboleta.
"É pelo orgulho que temos de representar as Forças Armadas", completa
o também judoca Luciano Correa.
A questão polêmica
é como a continência é percebida. Algumas pessoas verão razões políticas no
gesto militar. Outros, mais céticos, olham para a mão erguida ao lado da
cabeça, ouvem o discurso dos atletas e levam o raciocínio para outro caminho:
as Forças Armadas são patrocinadores. Os atletas recebem salários. Fazer
propaganda ou manifestar-se politicamente é proibido em eventos como o Pan.
Principalmente na cerimônia de medalhas.
"Além de
representar o Exército, eles ajudam bastante. Fazem de tudo para dar suporte,
não pegam no nosso pé. Deixam a gente trabalhar tranquilo", fala Léo de
Deus. "É um orgulho poder prestar essa homenagem e lembrar quem está nos
ajudando", diz Mayra.
Para os dirigentes
brasileiros, não há problema na manifestação. "No judô é natural. O
primeiro atleta campeão mundial militar foi o Wagner Castropil em 1994. Depois,
o Sebastian Pereira em 2000. Isso vem de muitos anos. É uma tradição nas Forças
Armadas ter judocas. Aqui, é uma coisa tratada como natural", analisa Ney
Wilson, gerente de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô.
Para Ricardo
Leyser, secretario executivo do Ministério do Esporte, também não há problema
na prática. "Esses atletas estão incorporados às Forças Armadas. É um
projeto do Ministério da Defesa com o Ministério do Esporte, que começou com os
Jogos Militares no Rio. Após 2011, as Forças Armadas não tinham recursos para
manter os atletas e fizemos uma parceria. As Forças Armadas pagam salários, o
Ministério do Esporte custeia as viagens para competições".
Esse programa
militar envolve 600 atletas, divididos entre Aeronáutica, Marinha e Exército.
São 123 atletas na delegação que está em Toronto no grupo. Todos recebendo
salários, que podem chegar a R$ 4 mil, para defender o Brasil em competições
esportivas. Sendo elas militares ou não.
Veja como
publicado: http://pan.uol.com.br/noticias/2015/07/15/porque-os-atletas-brasileiros-estao-batendo-continencia-no-podio-do-pan.htm
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