Enquanto a maioria dos presidenciáveis diz que o Brasil pode
caminhar para um cenário de “venezuelização” se o adversário ganhar, parcela
significativa do PT tem reiterado apoio ao país vizinho"
"A Venezuela extrapolou o âmbito da política externa
para se tornar um dos temas centrais na campanha eleitoral. Jair Bolsonaro
(PSL), por exemplo, afirma que a volta do PT ao Planalto representaria uma
“venezuelização” do Brasil. Geraldo Alckmin (PSDB) diz o mesmo em relação a
petistas e ao próprio Bolsonaro.
A visão dos presidenciáveis é clara: se o adversário ganhar,
o país caminhará para um cenário caótico semelhante ao do país vizinho, com
hiperinflação, desemprego, escassez de alimentos e medicamentos, insegurança e
crise institucional.
O que dizem os petistas sobre a Venezuela?
E o que dizem os petistas sobre a questão? Fernando Haddad,
candidato à Presidência do partido, declarou recentemente que a Venezuela já
não é uma democracia. “Quando você está em conflito aberto, como está lá, não
pode caracterizar como uma democracia. A sociedade não está conseguindo, por
meios institucionais, chegar a um denominador comum”, afirmou, em 13 de agosto.
A opinião, entretanto, está longe de ser consensual em seu
partido. Nos últimos meses, parcela significativa do PT tem reiterado seu apoio
ao regime ditatorial de Nicolás Maduro. A presidente da sigla, a senadora
Gleisi Hoffmann (PR), é hoje o principal nome a respaldar essa posição
publicamente.
Em julho de 2017, Gleisi manifestou, em nome do PT, solidariedade
a Maduro no 23º Encontro do Foro de São Paulo, congregação partidos de esquerda
da América Latina e do Caribe. “Temos a expectativa de que a Assembleia
Constituinte possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da Revolução
Bolivariana e que as divergências políticas se resolvam de forma pacífica”,
declarou.
Dois meses depois, documento assinado por Gleisi e Monica
Valente, secretária de Relações Internacionais do PT, também fazia elogios a
Maduro. “Em nome do PT expressamos nosso forte apoio e celebramos o constante
compromisso do governo de submeter as divergências ao voto popular, como
mostrou o recente processo de uma Constituinte, permitindo que o povo decida
seu próprio futuro”, dizia a nota.
Em maio deste ano, pouco antes da eleição que garantiu mais
um mandato para Maduro, texto assinado por Valente no site do PT defendia a
lisura e a transparência do processo político na Venezuela.
A Assembleia Constituinte venezuelana foi instalada há um
ano para reescrever a Constituição do país. A nova Carta Magna ainda não saiu
do papel, mas nesse período a Constituinte, controlada por Maduro, anulou a Assembleia
Nacional opositora, instalou uma comissão que levou ao indiciamento de seus
principais rivais e cassou as duas maiores siglas adversárias.
Em retribuição à solidariedade petista, membros da
Constituinte venezuelana criticaram duas vezes a prisão do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Agora, Lula adota tom mais distanciado
Depois de afirmar em vídeo que Maduro se “destacou
brilhantemente na construção de uma América Latina mais democrática e
solidária”, Lula adotou recentemente um tom mais distanciado.
Em março, um mês antes de ser preso, disse à agência AFP que
não está acompanhando de perto a situação venezuelana e que não havia
conversado nos meses anteriores com Maduro.
O petista afirmou ainda que, em 2013, quando o mandatário
assumiu o poder como herdeiro político de Hugo Chávez (1954-2013), lhe enviou
uma carta dizendo que “achava que era prudente ele trabalhar para harmonizar a
Venezuela”.
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