TOMARA QUE DEUS NÃO EXISTA
Brasil, um país onde não apenas o Rei está nu. Todos os Poderes e Instituiçōes estão nus, e o pior é que todos perderam a vergonha de andarem nus. E nós, o Procuradores da República, e eles, os Magistrados, teremos o vergonhoso privilégio de recebermos R$ 4.300,00 reais de "auxílio moradia", num país onde a Constituição Federal determina que o salário mínimo deva ser suficiente para uma vida digna, incluindo alimentação, transporte, MORADIA, e até LAZER.
Brasil, um país onde não apenas o Rei está nu. Todos os Poderes e Instituiçōes estão nus, e o pior é que todos perderam a vergonha de andarem nus. E nós, o Procuradores da República, e eles, os Magistrados, teremos o vergonhoso privilégio de recebermos R$ 4.300,00 reais de "auxílio moradia", num país onde a Constituição Federal determina que o salário mínimo deva ser suficiente para uma vida digna, incluindo alimentação, transporte, MORADIA, e até LAZER.
A Partir de agora, no serviço público, nós, Procuradores da
República, e eles, os Magistrados, teremos a exclusividade de poder conjugar
nas primeiras pessoas o verbo MORAR. Fica combinado que, doravante, o resto da
choldra do funcionalismo não vai mais "morar". Eles irão apenas se
"esconder" em algum buraco, pois morar passou a ser privilégio de uma
casta superior.
Tomara que Deus não exista... Penso como seria complicado, depois
de minha morte (e mesmo eu sendo um ser superior, um Procurador da República,
estou certo que a morte virá para todos), ter que explicar a Deus que esse
vergonhoso auxílio-moradia era justo e moral.
Como seria difícil tentar convencê-Lo (a Ele, Deus) que eu,
DEFENSOR da Constituição e das Leis, guardião do princípio da igualdade e
baluarte da moralidade, como é que eu, vestal do templo da Justiça, cheguei a
tal ponto, a esse ponto de me deliciar nesse deslavado jabá, chamado auxílio-moradia.
Tomara, mas tomara mesmo que Deus não exista, porque Ele sabe que
eu tenho casa própria, como de resto têm quase todos os Procuradores e
Magistrados e que, no fundo de nossas consciências, todos nós sabemos, e muito
bem, o que estamos prestes a fazer.
Mas, pensando bem, o Inferno não haverá de ser assim tão
desagradável como dizem, pois lá, estarei na agradável companhia de meus amigos
Procuradores, Promotores e Magistrados. Poderemos passar a eternidade debatendo
intrincadas teses jurídicas sobre igualdade, fraternidade, justiça, moralidade
e quejandos. Como dizia Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada!
DAVY LINCOLN ROCHA
Procurador da República
DAVY LINCOLN ROCHA
Procurador da República
Joinville SC
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